terça-feira, 19 de julho de 2011

A casa no alto do morro

Sempre que faço uma viagem me perco em pensamento admirando as paisagens, tudo é tranquilo, apenas eu, a estrada, o verde da mata e a música não tão calma, mas que liga perfeitamente com a imagem, de acordo com o meu gosto pessoal e fazendo exatamente isso, peguei a estrada rumo a lugar nenhum.
No caminho reparei em algo que subitamente me chamou a atenção, notei que no alto de uma montanha, havia uma casa, moldada em uma beleza simples, mas detalhadamente caprichosa na jardineira florida da única janela vista daquele ângulo, a porta aberta, com telhado baixo, um jardim não muito embelezado, uma pequena plantação para o alimento do dia a dia, duas cadeiras que de longe parecem ser de madeira, já velhas, ao lado da construção uma única árvore, uma palmeira que chama atenção sozinha no alto do monte, a grama batida e um canteiro.   Naquele cenário sem portão, sem riquezas, sem nada de mais, apenas a casinha do alto do morro, a imaginação tomou forma, na curiosidade que nunca será saciada, de quem lá habitava.
Poderia ser o Seu José, um velhinho contador de histórias, que quando jovem andarilho se perdeu por estas bandas, no desespero de não ver uma alma viva, decidiu subir o morro na esperança de ver do alto um caminho um alguém. Ao chegar no ponto específico se encantou com o que viu, se apaixonou e de lá nunca mais saiu.
Seu José falador, logo tratou de contar do seu amor, que foi lá do alto do morro que ele avistou a mulher mais bela que seus olhos puderam encontrar, gaiteira em seu vestido florido, sua pele morena, seu cabelo flutuante, tão linda que até seu nome era de flor, Jasmim, contou que assim que se encontraram instantaneamente seus corações se amarraram e nunca mais se soltaram. Foi assim que a vida seguiu seu rumo, em sua casa ele criou três filhos homens, que já pegaram seus caminhos, um em cada canto. Hoje seu José e Dona Jasmim vivem uma vida tranqüila, aposentados não trabalham mais na fazenda de soja alguns hectares à frente, se contentam em ler o jornal ao lado da palmeira admirando a paisagem a muito modificada pelo crescimento da cidade, paisagem essa que antes era só verde em vários tons cortado por um laguinho miúdo que não existe mais, secou com a construção da Rodovia que transformou o pouco verde que resta em uma única cor.  Contudo, Seu José ainda fala de sua humilde casinha no alto morro com brilho nos olhos e esse mesmo brilho aparece quando olha para Dona Jasmim.
Essa é toda uma história que poderia até ser verdade. Mas qual a graça da realidade? A realidade é previsível, objetiva, imposta e às vezes não tem a mínima graça!


4 comentários:

Rubens disse...

Viagem em duplo sentido.
Ótimo texto
Nos faz querer imaginar

rafa disse...

Adoro sua imaginação.

Fabi disse...

Que delícia de ler essa história!

Aline disse...

Ótima história,nos faz imaginar e a simplicidade das palavras me encantam.